quinta-feira, 30 de abril de 2015

Varsóvia (2)

A capital da Polônia tem atualmente cerca de 2 milhões de habitantes, mas já teve sua população reduzida a rastros na Segunda Guerra Mundial.

É impressionante pensar que uma cidade ficou 85% destruída com a Guerra e que de uma população à época de cerca de 1milhão e 300 mil habitantes reduziu-se a pouco mais de 400 mil ao final do conflito.

Fizemos a visita a Varsóvia de modo bastante entrecortado, pois tivemos 1 dia e meio na chegada, seguimos para Gdansk por dois dias, voltamos para Varsóvia por mais um dia, seguimos para Cracóvia por 3 dias e ao final, mais um dia em Varsóvia antes de voltar para Madrid.
Mas esse tempo foi suficiente para conhecer bastante da cidade.

Logo na chegada fomos para a região mais turística, a Stare Miasto (cidade antiga). É aí onde ficam o Castelo Real e a Rynek Starego Miasta (praça da cidade antiga). Obviamente na época atual lotada de restaurantes, lojas de souvenirs, lojinhas de artesanato local e bla bla bla.
Mas a cidade antiga estava assim ao final da guerra:



Ficando assim após a sua reconstrução:



Saindo da Stare Miasto tem início uma rua muito charmosa de Varsóvia (também cheia de restaurantes turísticos e lojinhas e todo o bla bla bla das áreas turísticas), a Nowy Świat. Esta rua, que na verdade começa com o nome de Krakowskie Przedmieście e só depois muda para Nowy Świat, começa no Castelo Real e vai até o Palácio de Wilanów. Recebe o nome de Rotal Real porque era o caminho que os reis poloneses percorriam para ir de um palácio ao outro. No seu trajeto é possível ver igrejas, o museu Chopin, o palácio do governo e a antiga sede do governo soviético (a "Casa do Partido"), prédio este que, após a queda comunista, ironicamente virou a Bolsa de Valores de Varsóvia e atualmente é um Centro Bancário e Financeiro (reza a lenda que há passagens subterrâneas levando esse edifício a vários locais da cidade que eram sedes do governo soviético, além de uma plataforma secreta que dava diretamente na estação de trens).

início da Nowy Świat

Nowy Świat

antiga Casa do Partido

Mas o que achei mais interessante na Nowy Świat (e isso está em pelo menos toda a parte central de Varsóvia) foi entrar nos jardins internos que existe em cada prédio.
Ponho aqui uma foto aérea do googlemaps para que se possa ter uma visão do que digo.



Em cada porta de prédio existe dentro um jardim. Isso deixa as áreas residenciais mais agradáveis de se viver e nas ruas mais comercias sempre há algumas surpresas lá dentro, como cafés, bares e restaurantes, que na maioria das vezes são mais atrativos do que os que dão para a rua, que terminam sendo mais turísticos.

Ao lado da Stare Miasto estão o Barbican (muralhas antigas da cidade) e a Nowe Miasto (cidade "nova", que data do século XIII).

Barbican:
Barbican (essa foto não é minha, roubei da internet)













Nowe Miasto:





 Mas o que mais me atraiu em Varsóvia não foi essa coisa bonitinha dos telhados vermelhos e verdes reconstruídos e todos fofos atualmente. O que mais me atraiu foi saber que meus pés estavam andando por ruas que foram devastadas, pensando na bravura de um povo que se lançou de cabeça no Levante de Varsóvia e saber que aquela cidade foi reconstruída há menos de 70 anos.
Além disso, me atraiu ver de perto os resquícios da dominação soviética que com sua ideologia impregnou a arquitetura local, que diga-se de passagem, era de um extremo mal gosto.

O grande marco da arquitetura soviética em Varsóvia é o monstrengo que fica bem ao centro da cidade, chamado Palácio da Cultura e das Ciências (Pałacu Kultury i Nauki). Este edifício, que já teve o nome de Palácio Josef Stalin, foi construído nos idos da década de 50 e foi um "presente do povo soviético para o povo polonês". Atualmente, o lugar abriga um cinema multiplex, teatros, bibliotecas e universidades. Tem um mirador onde não subimos.
O palácio divide opiniões, pois deixa no país a memória da presença de Stalin e do que essa criatura foi capaz de fazer durante os anos de dominação do seu governo, mas ao mesmo tempo muita gente não consegue negar a sua beleza e imponência.

Duas construções exatamente em frente uma à outra mostrando o contraste entre um passado sombrio e nada distante e um presente ainda muito jovem:



O Palácio à noite

Vista da janela do nosso apartamento

Durante  guerra, os nazistas mandaram os  judeus poloneses para o gueto. Essas pessoas foram confinadas a um espaço ínfimo e com poucas condições de higiene. Quase 400.000 judeus poloneses foram transferidos para uma área que correspondia a mais ou menos 2% do território da cidade de Varsóvia.  




Essas pessoas, ao perceberem que seu fim seria inevitável decidem lutar (com enorme e evidente desigualdade) contra o exército alemão.
Inspirados pelos judeus, o restante da população polonesa decide, então, insurgir-se também contra os nazistas. Um sentimento de nacionalismo e ingênua animação toma conta das ruas de Varsóvia nos dias que antecedem o Levante. A União Soviética, que estava a alguns km de Varsóvia parecia ser seu aliado nesse momento, porém, o exército de Stalin, fica à espreita e só entra na cidade depois que os alemães desmantelam a tentativa de luta dos poloneses.
Após a cidade virar escombros (Varsóvia teve uma destruição de 85% do seu patrimônio físico), o exército vermelho aí sim adentra e paga de salvador da pátria.
A história das próximas décadas todo mundo já sabe, a Polônia e vários outros países do Leste caíram nas mãos do sangrento e opressor regime Comunista.

O Museu do Levante conta essa história e é visita obrigatória. Contudo, confesso que não gostei do lugar. Achei muita enrolação para contar o episódio. Há muita coisa enfeitando a situação, a começar pelos sons de tiros e bombas que permeiam a visita (para que????).
A única coisa que realmente fez valer o ingresso são três filmes exibidos em tela grande, documentando a vida cotidiana durante os 63 dias da revolta de Varsóvia. Tais imagens sobreviveram à guerra e foram encontradas de forma solta, sendo posteriormente montadas num precioso trabalho. Faz-se importante salientar aqui a coragem e determinação dos cameramen que estavam no frontline todo o tempo e cujas imagens serviram de noticiário para serem mostrados no Palladium Cinema à época da revolta, quando ainda os poloneses tinham algum acesso ao cinema (visto que este logo passou a ser controlado pelos alemães).
Além desses três pequenos e preciosos documentários existe também no museu um trabalho cinematográfico de colorização de imagens da época do Levante, associado a um trabalho de leitura labial e som. Isso tudo gerou um filme que documentará eternamente o que ocorreu lá. O Museu também conseguiu identificar muitos dos rostos presentes nas imagens, estando ainda em eu site um link convidando as pessoas a identificar os rostos que eles não conseguiram.





Vamos agora falar de coisas boas?
O que e onde comi em Varsóvia?
Fácil responder. Porque comi durante quatro dias a mesma coisa no mesmo lugar. Pierogi do Zapiecek.
(Zapiecek no tripadvisor)
Pierogi é um tipo de pastelzinho com recheios diversos, que pode ser cozido ou frito e pode vir acompanhado de algum molho ou passado, por exemplo, na manteiga com bacon.
Amo!
Ok, o Zapiecek é um restaurante de rede e super turistão, mas eu amei, o pierogi de lá é ótimo e os preços, principalmente para quem viajou com orçamento apertado, são bem convidativos.


E as cervejas locais?
Ok também, a Polônia é famosa pelas inúmeras cervejas que produz e por ter vários lugares onde pode-se beber cervejas artesanais, mas a que mais amei foi a tradicional e popular Tiskie.
Vinhos? Não tomei, custam o triplo da cerveja e já falei que o orçamento era apertado. O único vinho que tomei nos dez dias de viagem era da República Tcheca (tomei numa feira de rua) e não era lá essas coisas.










Varsóvia (1)

Antes de falar de turismo conto aqui uma breve e interessante história.

Tínhamos um dia e meio em Varsóvia antes de seguir viagem para Gdansk.
Desembarcamos no aeroporto Lotnisko-Chopina e fomos de ônibus até o apartamento Solidarność, que fica na avenida de mesmo nome, no centro da cidade.
Lá estava seu dono, o Adam Modzelan, que nos recebeu muito bem, e que tem um plus: fala espanhol fluidamente e fala também um pouco de português. Uma grande ajuda para quem chega num país de língua ininteligível e onde pouca gente fala inglês.
Por que falo aqui do Adam?
Porque ele foi personagem fundamental no que desenrolou-se nas próximas horas em Varsóvia.

Chegamos antes do esperado e o apartamento ainda estava sendo limpo. Deixamos as coisas no apartamento e fomos direto para o que uma exaustiva pesquisa no google (com ajuda imprescindível do google tradutor) nos disse ser o escritório de registros civis de Varsóvia.
(por que o registro civil? porque estávamos precisando de uma cópia atualizada da nossa certidão de casamento para dar entrada em um trâmite em Madrid).

Demos sorte. O google nos deu o endereço certo do local e o mesmo ficava a uns 400 metros do apartamento onde nos hospedaríamos. Mas a sorte logo virou...
Chegando lá obtive um NÃO para todas as vezes em que perguntei "Do you speak English?".
A única pessoa que falou algo quase incompreensível em inglês pareceu dizer que tínhamos que preencher um formulário que estava sob uma mesa. Porém, havia 5 modelos de formulário na mesa!
Que fizemos? Agarramos uma cópia de cada modelo e voltamos correndo para o apartamento com esperanças de, na cara dura, pedir ajuda ao Adam, este aceitar descobrir qual formulário seria e ainda preencher conosco, visto que olhar para aquilo ali é a mesma sensação que alguém não alfabetizado deve ter ao abrir um livro. Muito triste.

Nossa sorte mudou para melhor quando vimos que Adam ainda estava no apartamento (já quase de saída), nos indicou qual o papel deveria ser preenchido e mais ainda, ofereceu-se para ir conosco no dia seguinte ao registro civil (afinal, chegar lá com aquele papel em mãos sem explicar motivos e etc não serviria de nada).

E ele foi!!!!
No dia seguinte, na hora marcada, ele estava à nossa espera em ainda teve a paciência de esperar o número de senha ser chamado (o que demorou bastante para um lugar que estava quase vazio... é gente, parem de ficar dizendo que burocracia é só no Brasil... garanto que em mais dois países a coisa também pode ser complicada... Espanha e Polônia).
Adam foi nosso salvador da pátria e seremos eternamente gratos a ele.

Apartamento onde ficamos: apartamento varsovia

polônia



 POLÔNIA


                        

Visitar a Polônia era um sonho antigo que sempre foi alimentado pela vontade de ver de perto um país que viveu uma história tão difícil. Além disso, meu casamento com um argentino/polonês está registrado em Varsóvia, consequentemente sempre achava meio que obrigatório ir até lá.

Antes de ir buscamos referências sobre os ancestrais poloneses do Marcelo e descobrimos coisas interessantes (e tristes) sobre a família e sobre o próprio país.

A Polônia já passou por tantas mudanças territoriais que inclusive já chegou a sumir do mapa, ou seja, deixou de ser um país independente, perdendo território para os países vizinhos com quem viveu disputas constantes.

Esse interessante vídeo do youtube ilustra bem como foram as mudanças territoriais na Polonia ao longo dos tempos:


A história de vida "del abuelo" Julian Lejczak retrata um pouco da confusão geográfica da Polônia. Julian nasceu na cidade de Łoszniów, região de Galicia, em 1904 (nesta época era território polonês). A região de Galicia pertenceu ao império austro-húngaro, depois à Polônia, foi dividida entre União Soviética e Alemanha durante a Segunda Guerra, e com a dissolução do bloco soviético passou a fazer parte da Ucrânia, estando assim até hoje. A cidade onde nasceu "el abuelo" antes Łoszniów, hoje tem o nome de Loshniv.

Com relação ao passado mais recente da Polônia, aí já é uma história mais conhecida de todos nós.
Em 1º de setembro de 1939 Hitler invade o país, entrando pela península de Westerplatte, na cidade portuária de Gdansk, ao norte. No dia 17 do mesmo mês a União Soviética também declara guerra à Polônia e a invade pelo seu lado leste. Em 10 de setembro as tropas alemãs já estavam na capital Varsóvia.

À partir daí seguem-se 5 anos de dominação nazista, com perseguição a policiais, políticos e intelectuais poloneses, e sobretudo, perseguição aos judeus da Polônia, que à época era o país com a maior população judia do mundo.

Ao final da guerra, em 1945, a União Soviética, sob comando de Stalin, paga de salvadora da pátria deixando entender que estava tirando a Polônia das mãos dos nazismo. No entanto, inicia um dos regimes mais opressores e também sangrentos do mundo, deixando esse país sob o domínio comunista por mais de quatro décadas.

É essa história que fascina muita gente que vai à Polônia, país palco de disputas infindáveis e que renasceu literalmente das cinzas.
É essa história aliada ao fato de estar na terra do "abuelo" Julian, que me fez tão feliz ao comprar o bilhete caridosamente barato de ida e volta Madrid-Warszawa, pela Norwegian Airlines.

A nossa viagem compreendeu somente 3 cidades: Varsóvia, Gdansk e Cracóvia, além de uma ida ao campo de concentração de Oswiecim, mais conhecido com Auschwitz.

Quem lê este blog sabe que prefiro fincar os pés no lugar do que ficar pulando de cidade em cidade.  Nove noites, portanto, me pareceram suficientes para serem divididas entre somente 3 cidades e foi o que fizemos.
A capital Varsóvia teria que ser incluída por motivos óbvios e porque o vôo de ida e volta era por lá.
Cracóvia é a queridinha dos turistas que vão à Polônia e, portanto, foi incluída.
Por fim, mesmo achando que ir até Gdansk, ao norte do país, era um deslocamento meio maluco, decidimos ir por conta da sua história (cidade onde iniciou-se a Segunda Guerra e posteriormente cidade palco do movimento Solidarnorsc, que daria início ao fim do bloco comunista do leste europeu) e sua conhecida beleza. E recomendo fortemente a todo mundo que for à Polônia não deixar de ver Gdansk.


Os deslocamentos internos foram feitos de trem, que comprados com antecedência de uns 20 dias ofereciam bilhetes a preços muito bons para viagens de 3 horas de duração, cerca de 10 a 20 Euros cada trecho.
Os trens poloneses são bem confortáveis e oferecem um serviço que particularmente nunca vi na Europa: água, café, suco e um chicletinho grátis (você não precisa deslocar-se para receber, eles passam servindo! E depois ainda passam recolhendo o lixo que ficou!), além de revista de bordo. E claro, tem vagão restaurante com mais uma gama de coisas para serem consumidas.

Do aeroporto de Varsóvia para o centro você tem opção de ônibus de linha que custa 5 Zlots (moeda local) ou trem (super rápido e confortável) que custa 4,40 Zlots. E, claro, taxi, que não sei quanto custa.
A depender de onde está seu hotel pode ser mais conveniente o trem ou o ônibus. Ao chegarmos tomamos o ônibus e na saída o trem, já que o hotel do último dia era em local diferente do da chegada. O trem é mais confortável, mas nada tenho a reclamar do ônibus.

Dá para se virar com inglês? Bem pouco. Em vários lugares as pessoas não falam inglês, mesmo em locais como guichês de venda de passagem nas estações de trem. Desse modo, use a mímica, que é funcional e mais difundida mundialmente do que o Esperanto.