Antes de lá chegar, a Berlim que mais povoava os meus pensamentos era a de Asas do Desejo (filme de Win Wenders, 1987). Mas esta é uma Berlim que ficou para trás, uma Berlim com muro e dividida em duas. A Berlim de hoje é diferente, e como no filme, onde de repente o preto/branco se transforma em cor, Berlim ganhou outra cara, e, apesar dos resquícios de um passado recente, o preto/branco foi perdendo seu espaço e foi sendo substituído pelas cores de uma cidade vibrante.
Berlim é dicotômica. E eu adoro cidades que são duas em uma.
O seu lado oriental está nitidamente separado do seu lado ocidental, mesmo que sem muro, cuja queda foi há 21 anos.
É na parte ocidental com seus prédios de vidro de arquitetura contemporânea que Berlim mais se parece com outras cidades grandes. Já o lado oriental mostra-se mais autêntico, com prédios mais antigos, alguns com arquitetura que não nega a influência megalomaníaca do período nazista e outros com nítida influência da época comunista.
E tudo isso é encantador. Porque estar em Berlim é viver uma história que ainda é muito recente. A cidade ainda se recupera da destruição que seguiu a derrota na Segunda Guerra, portanto, muitos dos seus históricos prédios ou ainda tem marca de balas ou estão coberto com tapumes e sendo reconstruídos.
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parede do restaurante cravada de balas |
A viagem foi assim:
Ficamos no Hotel Etap Potsdamer Platz, que é idêntico ao nosso Formula1 e que tem diária para casal em torno de 50 a 60 Euros. O hotel fica ao lado da Anhalter Bahnhof, que foi a maior estação de trem de Berlim e à partir de onde foram transportados milhares de judeus para campos da República Tcheca. Aliás, meios de transporte em Berlim mereceriam não só um post à parte como um compêndio para demonstrar o que verdadeiramente é a civilização de um povo.
O ideal é começar pela Berlim Oriental e deixar a outra para o final, quando seus olhos já tiverem visto o que verdadeiramente interessa na cidade.
Caminhe pela cidade. Berlim é ampla, plana e facílima de ser explorada à pé. Quando as pernas cansarem tome o ônibus # 100, que é um ônibus de linha, mas que faz um trajeto passando por vários pontos de interesse turístico (uma dica é pegar este ônibus à noite para ver de uma outra maneira tudo que você já viu de dia).
No lado Oriental:
- caminhar pela Unter Den Linden, avenida que vai do Portão de Brandenburgo até o Rio Spree, centro da Berlim Oriental, passando pela Biblioteca Central, Universidade Humboldt, Ópera, Catedral St Edwirges e Bebel Platz. No final desta avenida, cruzando uma pequena ponte, vão estar a Ilha dos Museus e a Catedral de Berlim, todos merecem ser visitados.
Na Ilha dos Museus (Museumsinsel) os 3 princiapis museus são o Bode Museum com arte bizantina, barroca e renascentista; o Pergamonmuseum onde está o incrível altar dedicado a Zeus, originalmente construído no século II a.C. na cidade grega de Pérgamo (atual Bergama, na Turquia); e o Altes Museum com arte greco-romana.
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Portão de Brandenburg |
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Museumsinsel |
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Catedral |
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Catedral |
- se as pernas aguentarem e der para seguir em frente, chega-se à Alexanderplatz, praça imensa, símbolo da antiga RDA, hoje rodeada por grandes lojas de departamento, apelos ao consumo capitalista! Na Alex (assim a chamam os Berlinenses) estão a Fernsehtur, torre de TV também ícone da RDA e hoje ícone da cidade, e o World Time Clock, relógio rotatório que mostra a hora em várias cidades do mundo.
- a poucos metros da Alexanderplatz está o Nikolaiviertel, bairro fundado em 1200, destruído na Segunda Guerra e reconstruído em 1987. Suas ruas são quase todas ruas de pedestre e aí há vários cafés e restaurantes.
- saindo do Portão de Brandenburgo e caminhando (ou tomando um ônibus) pela avenida que cruza o Tiergarten, chega-se à Grosser Stern, praça central do Tiergarten e onde está a Siegessaule, a coluna da vitória (era em cima deste monumento que os anjos de Asas do Desejo passavam boa parte do seu tempo).
- caminhar pelo bairro Mitte é uma ótima pedida. O bairro tem a cara da RDA e é cheio de lojinhas, brechós, bares. Na Arkona Platz tem uma feirinha que, infelizmente, quando chegamos já tinha acabado. O jeito foi parar num bar ali perto e fazer o sacrifício de tomar umas cervas :)
Próximo a Arkona Platz está o Gedenkstätte und Dokumentationszentrum Berliner Mauer (memorial do muro) www.berliner-mauer-gedenkstaette.de
- no Mitte está o Tacheles, edifício que fica no antigo setor judeu e que hoje é um centro cultural abrigando ateliers de vários artistas. O edifício foi ocupado pelo partido nazista e quase totalmente destruído pelos aliados no fim da Segunda Guerra. A cidade tinha planos de demolí-lo, quando em 1990, após a queda do muro, o mesmo foi ocupado por jovens artistas que não só fizeram o edifício ser tombado pelo patrimônio, como influenciaram a cultura de inventividade que caracterizou o bairro daí em diante. O nome Tacheles em hebraico significa falar com claridade.
Aí próximo ao Tacheles está o Hackeschemarkt.
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Tacheles |
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Tacheles |
- Reichstag (Parlamento Alemão): as filas para entrar são imensas; passamos por aí 3 vezes até que um dia... a fila estava pequena! Vale muito à pena entrar e conhecer a cúpula do parlamento, incrível obra da arquitetura contemporânea. Sorte de quem vai na hora do pôr do sol com Berlim tendo dias de céu de Brigadeiro!
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Berlim vista da cúpula do Parlamento |
No lado Ocidental:
- Kreuzberg: é o bairro dos imigrantes, principalmente turcos, onde a vida noturna pulsa em Berlim. Infelizmente só passamos lá de dia. A viagem para Berlim me deixou muito cansada... atribuo o fato à mudança do clima (e, claro, ao fuso, era a primeira cidade da viagem etc), pois nos 2 primeiros dias fazia um frio de rachar com céu nublado e nos dias seguintes fazia sol, sem nuvens, com tempo muito seco de rachar lábios e deixar o cabelo parecendo palha.
Nesta repotagem de O Globo os comentários sobre Kreuzberg são bem interessantes e dá para deixar o bairro na lista dos "motivos para voltar para Berlim".
http://oglobo.globo.com/viagem/mat/2011/06/01/em-berlim-kreuzberg-desponta-como-bairro-da-moda-924585741.asp
- KaDeWe (Kaufhaus Des Westens, ou Loja de departamento do Oeste): a loja de departamento é incrível, mas o melhor dela está na sua praça de alimentação no 6º andar; vá direto para lá. Além de comprar um monte de guloseimas para levar para casa, você pode sentar-se em um dos muitos kioskes de cerveja, pedir umas salsichas dos muitos kioskes de salsichas (uma variedade delas como eu jamais pensasse existir) e se deliciar. Imperdível!
- Para os interessados em fotografia: Museu fur Photographie Helmut Newton.
- Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche: igreja que foi bombardeada em 1947; situa-se na Kurfürstendamm, importante avenida de Berlim Ocidental. Sua torre bombardeada foi mantida até hoje e no seu interior há um memorial.
- Potsdamer Platz: aí está o famoso Sony Center e toda Berlim pós moderna, que me interessou bem menos do que a antiga. No Sony Center há o Filmmuseu e aí próximo a Philarmonie e o Kulturforum.
Da série "vá se tiver tempo", também conhecida como "vá se não tiver o mais que fazer":
- DDR Museum: um museusinho interativo mostrando como era lindo e vintage viver na época da RDA
- Museu Judaico: o prédio é lindo e merece ser visto por fora, se tiver tempo entre.
- Schwulesmuseum: museu que conta a história da homossexualidade ao longo dos tempos; bem interessante.
- Checkpoint Charlie: é um "must see", eu sei; mas é só para passar e ver, entrar no museu é perda de tempo. O Checkpoint Charlie era um posto de fronteira entre a Berlim Ocidental e a Oriental na época da dominação soviética. Ponto importante da história mundial, merece sim ser visto, daí a tirar fotos com os guardinhas que ficam lá vestidos com roupas do exército americano e soviético e entrar no museu é outra coisa...
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Museu Judaico - seu desenho lembra uma estrela de Davi, só que desconstruída |
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Checkpoint Charlie |
Da série "vá de qualquer jeito":
- sentar-se numa das mesas ao ar livre na beira do Rio Spree e tomar uma saborosa cerveja alemã (com salsichas, óficórsi)
Impressões Berlinenses:
- Berlim é ampla, limpíssima e ultraorganizada.
- Seus moradores são silenciosos (um silêncio absurdo no metrô, nos ônibus), exceto quando bêbados, e vão trabalhar de bicicleta vestido com ternos.
- Seus meios de transporte são extremamente funcionais.
- A cidade é barata para comer, beber, sair, quando comparada a outras capitais européias.
- Quase não vimos casais andando de mãos dadas, trocando carinhos... aí nem pensar...
- Berlim une uma incrível história a monumentos, cultura, eventos, noite animada e banho de civilização. Mas o que mais impressiona é ver de perto como se constrói e se muda uma sociedade em 20 anos!
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