domingo, 17 de julho de 2011

berlim (abril 2009)

Berlim era um sonho antigo.
Antes de lá chegar, a Berlim que mais povoava os meus pensamentos era a de Asas do Desejo (filme de Win Wenders, 1987). Mas esta é uma Berlim que ficou para trás, uma Berlim com muro e dividida em duas. A Berlim de hoje é diferente, e como no filme, onde de repente o preto/branco se transforma em cor, Berlim ganhou outra cara, e, apesar dos resquícios de um passado recente, o preto/branco foi perdendo seu espaço e foi sendo substituído pelas cores de uma cidade vibrante.

Berlim é dicotômica. E eu adoro cidades que são duas em uma.
O seu lado oriental está nitidamente separado do seu lado ocidental, mesmo que sem muro, cuja queda foi há 21 anos.
É na parte ocidental com seus prédios de vidro de arquitetura contemporânea que Berlim mais se parece com outras cidades grandes. Já o lado oriental mostra-se mais autêntico, com prédios mais antigos, alguns com arquitetura que não nega a influência megalomaníaca do período nazista e outros com nítida influência da época comunista.


E tudo isso é encantador. Porque estar em Berlim é viver uma história que ainda é muito recente. A cidade ainda se recupera da destruição que seguiu a derrota na Segunda Guerra, portanto, muitos dos seus históricos prédios ou ainda tem marca de balas ou estão coberto com tapumes e sendo reconstruídos.

parede do restaurante cravada de balas

 A viagem foi assim:

Ficamos no Hotel Etap Potsdamer Platz, que é idêntico ao nosso Formula1 e que tem diária para casal em torno de 50 a 60 Euros. O hotel fica ao lado da Anhalter Bahnhof, que foi a maior estação de trem de Berlim e à partir de onde foram transportados milhares de judeus para campos da República Tcheca. Aliás, meios de transporte em Berlim mereceriam não só um post à parte como um compêndio para demonstrar o que verdadeiramente é a civilização de um povo.


O ideal é começar pela Berlim Oriental e deixar a outra para o final, quando seus olhos já tiverem visto o que verdadeiramente interessa na cidade.
Caminhe pela cidade. Berlim é ampla, plana e facílima de ser explorada à pé. Quando as pernas cansarem tome o ônibus # 100, que é um ônibus de linha, mas que faz um trajeto passando por vários pontos de interesse turístico (uma dica é pegar este ônibus à noite para ver de uma outra maneira tudo que você já viu de dia).

No lado Oriental:

- caminhar pela Unter Den Linden, avenida que vai do Portão de Brandenburgo até o Rio Spree, centro da Berlim Oriental, passando pela Biblioteca Central, Universidade Humboldt, Ópera, Catedral St Edwirges e Bebel Platz. No final desta avenida, cruzando uma pequena ponte, vão estar a Ilha dos Museus e a Catedral de Berlim, todos merecem ser visitados.
Na Ilha dos Museus (Museumsinsel) os 3 princiapis museus são o Bode Museum com arte bizantina, barroca e renascentista; o Pergamonmuseum onde está o incrível altar dedicado a Zeus, originalmente construído no século II a.C. na cidade grega de Pérgamo (atual Bergama, na Turquia); e o Altes Museum com arte greco-romana.

Portão de Brandenburg

Museumsinsel

Catedral

Catedral


- se as pernas aguentarem e der para seguir em frente, chega-se à Alexanderplatz, praça imensa, símbolo da antiga RDA, hoje rodeada por grandes lojas de departamento, apelos ao consumo capitalista! Na Alex (assim a chamam os Berlinenses) estão a Fernsehtur, torre de TV também ícone da RDA e hoje ícone da cidade, e o World Time Clock, relógio rotatório que mostra a hora em várias cidades do mundo.

 
- a poucos metros da Alexanderplatz está o Nikolaiviertel, bairro fundado em 1200, destruído na Segunda Guerra e reconstruído em 1987. Suas ruas são quase todas ruas de pedestre e aí há vários cafés e restaurantes.


 - saindo do Portão de Brandenburgo e caminhando (ou tomando um ônibus) pela avenida que cruza o Tiergarten, chega-se à Grosser Stern, praça central do Tiergarten e onde está a Siegessaule, a coluna da vitória (era em cima deste monumento que os anjos de Asas do Desejo passavam boa parte do seu tempo).



- caminhar pelo bairro Mitte é uma ótima pedida. O bairro tem a cara da RDA e é cheio de lojinhas, brechós, bares. Na Arkona Platz tem uma feirinha que, infelizmente, quando chegamos já tinha acabado. O jeito foi parar num bar ali perto e fazer o sacrifício de tomar umas cervas  :)
Próximo a Arkona Platz está o Gedenkstätte und Dokumentationszentrum Berliner Mauer (memorial do muro)    www.berliner-mauer-gedenkstaette.de


 - no Mitte está o Tacheles, edifício que fica no antigo setor judeu e que hoje é um centro cultural abrigando ateliers de vários artistas. O edifício foi ocupado pelo partido nazista e quase totalmente destruído pelos aliados no fim da Segunda Guerra. A cidade tinha planos de demolí-lo, quando em 1990, após a queda do muro, o mesmo foi ocupado por jovens artistas que não só fizeram o edifício ser tombado pelo patrimônio, como influenciaram a cultura de inventividade que caracterizou o bairro daí em diante. O nome Tacheles em hebraico significa falar com claridade.
Aí próximo ao Tacheles está o Hackeschemarkt.

Tacheles

Tacheles

- Reichstag (Parlamento Alemão): as filas para entrar são imensas; passamos por aí 3 vezes até que um dia... a fila estava pequena! Vale muito à pena entrar e conhecer a cúpula do parlamento, incrível obra da arquitetura contemporânea. Sorte de quem vai na hora do pôr do sol com Berlim tendo dias de céu de Brigadeiro!



Berlim vista da cúpula do Parlamento
- Memorial do Holocausto: numa área de 19000 m2 estão 2711 blocos com largura e alturas distintas que representam os judeus mortos na Segunda Guerra. O arquiteto responsável informou que "os blocos são desenhados para produzir uma intranqüilidade, um clima de confusão e a escultura toda ajuda a representar um sistema supostamente ordenado e que perdeu o contato com a razão humana".




No lado Ocidental:

- Kreuzberg: é o bairro dos imigrantes, principalmente turcos, onde a vida noturna pulsa em Berlim. Infelizmente só passamos lá de dia. A viagem para Berlim me deixou muito cansada... atribuo o fato à mudança do clima (e, claro, ao fuso, era a primeira cidade da viagem etc), pois nos 2 primeiros dias fazia um frio de rachar com céu nublado e nos dias seguintes fazia sol, sem nuvens, com tempo muito seco de rachar lábios e deixar o cabelo parecendo palha.
Nesta repotagem de O Globo os comentários sobre Kreuzberg são bem interessantes e dá para deixar o bairro na lista dos "motivos para voltar para Berlim".
http://oglobo.globo.com/viagem/mat/2011/06/01/em-berlim-kreuzberg-desponta-como-bairro-da-moda-924585741.asp

- KaDeWe (Kaufhaus Des Westens, ou Loja de departamento do Oeste): a loja de departamento é incrível, mas o melhor dela está na sua praça de alimentação no 6º andar; vá direto para lá. Além de comprar um monte de guloseimas para levar para casa, você pode sentar-se em um dos muitos kioskes de cerveja, pedir umas salsichas dos muitos kioskes de salsichas (uma variedade delas como eu jamais pensasse existir) e se deliciar. Imperdível!


- Para os interessados em fotografia: Museu fur Photographie Helmut Newton.

- Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche: igreja que foi bombardeada em 1947; situa-se na Kurfürstendamm, importante avenida de Berlim Ocidental. Sua torre bombardeada foi mantida até hoje e no seu interior há um memorial.


 - Potsdamer Platz: aí está o famoso Sony Center e toda Berlim pós moderna, que me interessou bem menos do que a antiga. No Sony Center há o Filmmuseu e aí próximo a Philarmonie e o Kulturforum.


 Da série "vá se tiver tempo", também conhecida como "vá se não tiver o mais que fazer":
- DDR Museum: um museusinho interativo mostrando como era lindo e vintage viver na época da RDA
- Museu Judaico: o prédio é lindo e merece ser visto por fora, se tiver tempo entre.
- Schwulesmuseum: museu que conta a história da homossexualidade ao longo dos tempos; bem interessante.
- Checkpoint Charlie: é um "must see", eu sei; mas é só para passar e ver, entrar no museu é perda de tempo. O Checkpoint Charlie era um posto de fronteira entre a Berlim Ocidental e a Oriental na época da dominação soviética. Ponto importante da história mundial, merece sim ser visto, daí a tirar fotos com os guardinhas que ficam lá vestidos com roupas do exército americano e soviético e entrar no museu é outra coisa...

Museu Judaico - seu desenho lembra uma estrela de Davi, só que desconstruída

Checkpoint Charlie
 


Da série "vá de qualquer jeito":
- sentar-se numa das mesas ao ar livre na beira do Rio Spree e tomar uma saborosa cerveja alemã (com salsichas, óficórsi)



Impressões Berlinenses:
- Berlim é ampla, limpíssima e ultraorganizada.
- Seus moradores são silenciosos (um silêncio absurdo no metrô, nos ônibus), exceto quando bêbados, e vão trabalhar de bicicleta vestido com ternos.
- Seus meios de transporte são extremamente funcionais.
- A cidade é barata para comer, beber, sair, quando comparada a outras capitais européias.

- Quase não vimos casais andando de mãos dadas, trocando carinhos... aí nem pensar...
- Berlim une uma incrível história a monumentos, cultura, eventos, noite animada e banho de civilização. Mas o que mais impressiona é ver de perto como se constrói e se muda uma sociedade em 20 anos!



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